top of page

Programação Completa

Programação Completa

25 de setembro de 2019, quarta-feira

09:00h                Abertura: O Simpósio e sua Proposta

                           Prof. Dr. Rui Luis Rodrigues (Depto. História – IFCH-UNICAMP)

​

09:30h                 Conferência de Abertura

                            “Où en sommes-nous aujourd’hui de la ‘religion populaire’ au Moyen Âge?”

                            (“Onde estamos hoje quanto à ‘religião popular’ da Idade Média?”)

                            Prof. Dr. Jean-Claude Schmitt (École des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris)

​

10:30h – 10:45h    Coffee-break

 

10:45h – 12:30h    Mesa 1: Passagens

                            Arte, devoção e cultura na Europa ocidental, do medievo tardio à primeira modernidade (séculos XIV-XVI):

                            Huizinga e a produção de representações simbólicas

                            Mediação: Dra. Carolina Gual (IFCH-UNICAMP)

 

Ementa: A intuição que levou Huizinga a pensar a cultura borguinhã em termos de Herfsttij, de “outono”, com toda a riqueza que essa estação possui enquanto período de fermentação, ao invés de considerá-la sob a forma de “renascença”, continua a indicar a enorme criatividade desse historiador que, diante de uma historiografia centrada nas (e, diríamos hoje, iludida pelas) dinâmicas do progresso, ousou ver nos sinais culturais não a antecipação do novo, mas os traços finais do antigo. A partir dessa percepção tão rica, a Mesa 1 de nosso Simpósio pretende refletir sobre as complexas passagens entre o tardo-medievo e os inícios da época moderna, partindo do pressuposto de que o eixo cultural, entendido de forma abrangente como as múltiplas esferas onde as representações simbólicas são gestadas, é lugar privilegiado para essa compreensão.

 

Convidados:

Prof. Dr. Leandro Alves Teodoro (UNICAMP)

Prof. Dr. Luís Filipe Silvério Lima (UNIFESP)

Profa. Dra. Patrícia Dalcanale Meneses (UNICAMP)

 

12:30h – 14:00h   Almoço

​

14:00h – 17:00h   Sessão de Comunicações 

                            Transições da Idade Média para a Moderna: crônicas, narrativas e representações da morte

                            Mediação: Rafael Bosch (IFCH-UNICAMP)

 

Uma investigação sobre a presença do motivo da dança macabra na lírica de Alphonsus de Guimaraens

Grazzielle Forcato Martins (UNESP)

Esta comunicação tem por objetivo apresentar uma leitura do macabro na lírica do poeta simbolista mineiro Alphonsus de Guimaraens (1870 – 1921), voltando-se, em particular, à releitura do motivo da dança macabra, integrante do conjunto de composições plásticas medievais enfeixadas sob a máxima latina do memento mori (“lembra-te que morrerás”). O fim da Idade Média tornou-se um período sensível ao apelo da morte, resultado da condição transitória da vida relacionada à promessa da eternidade, não apenas no sentido metafísico, mas em seu apelo moral e social. A representação da morte servirá, nesse contexto, à condenação da vaidade, ao registro das mazelas sociais como a fome, a peste e a guerra, e, por fim, em motivos como a dança macabra – que coloca na mesma ronda de esqueletos o servo e o rei – onde chegará mesmo a ocupar o espaço de possibilidade de integração entre todos os indivíduos, a despeito das fronteiras sociais que os separam. Diante da realidade inevitável da morte, todas as experiências terrenas – os prazeres, a posição social, as glórias e mazelas terrenas – se tornam transitórios, daí a persistência do motivo da deterioração na representação da morte em fins da Idade Média. O motivo da dança macabra tratará com especificidade do aspecto nivelador da morte e, no contexto das artes plásticas do período, tratava geralmente de indivíduos de diferentes classes sociais escoltados por corpos em processo de decomposição ou esqueletos, que os levam em direção ao túmulo. Nosso recorte tem por objetivo apresentar a presença deste motivo em Kiriale (1902) de Alphonsus de Guimaraens, tomando por embasamento as teorias de Johann Huizinga (2010) e Juliana Schmitt (2017); acreditamos que embora seja possível reconhecer aspectos medievais similares aos motivos que integram o memento mori na lírica alphonsina, buscaremos evidenciar que o tratamento dado sobre o tema pelo poeta mineiro demonstra a modernidade à qual sua lírica está filiada, conforme pontuado por Friedrich (1978), tornando-se uma expressão particular do macabro inserida no contexto do simbolismo/decadentismo nacional.

 

“Sus reliquias las tienen y veneran como de santa”: práticas devocionais a partir dos processos de canonização de Santa Teresa

Luciana Lopes dos Santos (UFVJM)

A primeira modernidade assistiu à valorização dada à santidade com o Concílio de Trento, resultando na maior preocupação com os processos de beatificação e canonização, a partir da criação da Sagrada Congregação de Ritos, em 1588. Teresa de Jesus, conhecida como Teresa de Ávila, teve sua santidade proclamada por Roma neste contexto, em uma canonização em conjunto com Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Isidoro Lavrador e Felipe Néri, no dia 12 de março de 1622. Nascida Teresa de Cepeda y Ahumada, morreu em 1582 e apenas nove anos depois iniciava a causa de sua canonização, com os primeiros depoimentos feitos na diocese de Salamanca, seguindo outros 34 processos realizados nas mais distintas dioceses espanholas e também fora da Península Ibérica. O objetivo da comunicação será o de explorar algumas possibilidades dos processos de canonização enquanto fontes históricas para a observação das práticas devocionais relativas à santidade naquele período, a partir do estudo de caso de Teresa de Jesus, santa castelhana e fundadora da Ordem do Carmelo Descalço. As práticas devocionais serão examinadas nos testemunhos realizados em Salamanca e em Alba de Tormes, de modo que também serão abordadas as trajetórias de alguns de seus depoentes na análise proposta. As principais práticas citadas nesta fonte histórica dizem respeito às relíquias, que podiam ser partes de seu corpo incorrupto, ou ainda vários objetos tocados por Teresa de Jesus quando era viva, de modo particular, sua obra escrita, materializada em cartas, “nóminas”, assim como citadas de memória pelos depoentes. As relíquias constituem parte da memória construída do candidato à santidade e apresentam como finalidades a veneração e o milagre. Esta comunicação pretende ser um desdobramento do projeto de pesquisa de pós-doutorado iniciado em 2018 junto ao Instituto de Estudios Medievales y Renacentistas y humanidades digitales (IEMYRhd) da Universidade de Salamanca, intitulado “Os Letrados e a Doutora: a Universidade de Salamanca e a canonização de Santa Teresa (1591-1622)”.

 

Lições da história para o bem viver (Espanha - Sécs. XV e XVI)

Dra. Maria Emília Granduque José (UNESP)

Em um dos capítulos da obra “O Outono da Idade Média”, o célebre historiador Johan Huizinga considera que a história produzida no âmbito da casa de Borgonha, no século XV, serve de suporte para a preservação de valores cultivados nesse meio, como a vingança e o orgulho. Ao abrir espaço para explorar o papel da escrita da história como testemunha dos valores de uma época, esse livro inspira-nos a refletir acerca do papel das crônicas para a perpetuação de parâmetros morais da sociedade do século XVI, daquela que sucedeu aos homens e mulheres analisados por Huizinga na referida obra. Partindo dessa questão colocada pelo autor, o objetivo da presente comunicação é analisar como a história e a crônica produzidas na Espanha, entre o final do século XV e o XVI, expressam as aspirações de uma sociedade que se preocupava com a construção da moral de seu reino. Mais precisamente, a proposta deste estudo é discutir como esse gênero de escrita, ao espelhar as boas ações do monarca espanhol, ajuda-nos a mapear as condutas consideradas louváveis para as pessoas dessa época. 

​

Morte e devoção no século XV: o caso português

Thaíse Colletti Pavani (UNICAMP) 

“Nenhuma época impôs a toda a população a ideia da morte continuamente e com tanta ênfase quanto o século XV”, escreve Johan Huizinga no início do décimo primeiro capítulo de O Outono da  Idade Média. Seja em sermões, gravuras ou trechos da literatura popular francesa de fins do século XIV observa-se uma preocupação comum atrelada ao entendimento da morte: o findar da beleza e também do corpo. De acordo com o autor, essas questões se expressam em um cenário no qual a devoção religiosa tem um papel fundamental, inclusive para além do âmbito cultural, como é possível observar nos cortejos fúnebres de reis, local em que o luto adquire um caráter público. Nossa comunicação buscará somar-se à perspectiva de Huizinga ao apresentar um panorama do pensamento devoto português com relação a morte e ao morrer no século XV. Para isso, nos valeremos das possibilidades retóricas que escritos religiosos, tais quais tratados de confissão portugueses, podem nos indicar sobre a maneira com que se encarava a temática da morte. A reflexão geral parte, principalmente, da ênfase dada a salvação da alma fundamentada na prática da penitência e confissão. 

 

17:00h - 18:00h   Lançamento do livro Ensino Cristão de Leandro Alves Teodoro

 

O Ensino Cristão foi impresso no ano de 1539 pelo editor Luís Rodrigues com o objetivo de oferecer ao fidalgo da Corte dos reis de Avis um rol de conselhos acerca das maneiras como deveria cuidar de si e de sua casa. Composto de treze capítulos não muito longos, esse documento vinha atender à demanda da época por obras de fácil aprendizagem e que ajudassem os nobres a se tornarem fiéis comprometidos com seus deveres religiosos.

26 de setembro de 2019, quinta-feira

26 de setembro de 2019, quinta-feira

09:00h – 10:30h   Mesa 2: Passagens

                            Cem Anos de O Outono da Idade Média

                            Mediação: Prof. Dr. Rui Luis Rodrigues (IFCH-UNICAMP)

 

Ementa: Apesar de centenária, a obra de Huizinga permanece um marco importante. Os avanços obtidos na pesquisa histórica, no intervalo que nos separa da publicação desse livro, certamente nos levaram a enxergá-lo em perspectiva, a situá-lo em seu próprio tempo e a relativizá-lo criticamente; todavia, a relevância de um trabalho como esse persiste no fato de que, apesar de toda a necessária revisão crítica, o livro de Huizinga continua como importante interlocutor para todos que se dedicam a pesquisar as complexas passagens entre tardo-medievo e época moderna. Os palestrantes abordarão problemas ligados à recepção do texto, sua fortuna crítica, seu lugar na produção intelectual de Huizinga e no escopo de suas concepções teóricas de História. Um olhar será lançado, também, para a atualidade e relevância desse trabalho e para o sentido de se continuar a editá-lo.

 

Convidados:

Prof. Dr. Lorenzo Mammi (USP)

Dra. Thereza Baumann (Museu Nacional)

Prof. Dr. Thiago Lima Nicodemo (UNICAMP)

 

10:30h – 10:45h    Coffee-break

 

10:45h – 12:30h    Mesa 3: Confluências

                            O lúdico da vida e a seriedade dos jogos

                            Mediação: Profa. Dra. Josianne Cerasoli (IFCH-UNICAMP)

 

Ementa: Na atividade intelectual de Huizinga encontramos a confluência de elementos que a historiografia de sua época não estava habituada a conjugar, mas cuja aproximação acabou por produzir novas luzes sobre os fenômenos históricos estudados por ele. Foi mérito de Huizinga perceber que, a par daquilo que nos acostumamos a separar didaticamente em realidades econômicas e políticas, e cuja importância esse autor nunca subestimou, a cultura merecia espaço na análise enquanto elemento formativo e de intenso agenciamento. Após as férteis contribuições recebidas da antropologia, nós historiadores e historiadoras passamos a valorizar aspectos para os quais Huizinga, há cem anos, já nos chamava a atenção. Seja na atribuição do devido valor às atitudes de vingança, seja no exame detido dos itens que compunham a simbólica de uma sociedade passada, como temos tanto em O Outono da Idade Média quanto no estudo que produziu sobre A Civilização Holandesa no Século XVII (1941), seja, finalmente, no acurado exame da importância do elemento lúdico na cultura (Homo ludens, 1938), Huizinga deu estatuto historiográfico a motivos culturais que demandariam, ainda, décadas até serem plenamente absorvidos pela pesquisa. Nesta Mesa 3 de nosso Simpósio, o elemento lúdico funcionará como chave para o acesso a outras dimensões da vida cultural que, a partir das inquietações e investigações de Johan Huizinga, tornaram-se legítimos objetos de pesquisa historiográfica.

 

Convidados:

Profa. Dra. Elaine Prodócimo (FEF/UNICAMP)

Prof. Dr. Flávio de Campos (USP)

Prof. Dr. Gabriel Ferreira Zacarias (UNICAMP)

​

12:30h – 14:00h   Almoço

 

14:00h – 17:00h   Sessão de Comunicações 

                            Jogos, cultura e política: aristocracias e regras de civilidade da nobreza – cavalaria

                            Mediação: Rafaela Franklin de Oliveira (IFCH-UNICAMP)

 

Contra uma cultura estanque: o jogo como elemento estrutural

Danilo Silvestre Janeiro (USP)

A chegada de Johan Huizinga ao lúdico se dá via "História Cultural": o caráter aparentemente periférico do jogo na cultura é justamente o que lhe permite acessar modos de vida de uma população que não seria tradicionalmente considerada como "agente histórico". Mas em 1933, em seu discurso anual como Reitor da Universidade de Leyden, Huizinga já se permite afirmar que o jogo não seria periférico à cultura, mas sim um de seus fatores centrais. Intitulada “Sobre os limites entre o lúdico e o sério na cultura”, a fala tenta apontar como há um elemento de extrema seriedade no jogo que se estendem à vida cotidiana. Pouco após esse discurso, Huizinga apresenta a conferência “The Play Element of Culture” em que volta a abordar o jogo não como elemento na cultura (ou seja, um dentre muitos elementos que compõe a produção humana), mas como um elemento estrutural. Sua proposta é de que a cultura, por si só, possui um caráter lúdico que a sustenta — o jogo não seria uma produção cultural, mas sim aquilo que permite essa produção. Assim, a Ética, a Moral, o Direito, não seriam conceitos externos, platônicos, mas sim conceitos que surgem dentro de uma realidade regrada enquanto propostas. Isso equivale a dizer que esses conceitos fundamentais para a civilização surgem, para Huizinga, de dentro do jogo e nele são experimentados pela primeira vez, ainda que de maneira temporária. Em seu “Homo Ludens”, de 1938, Huizinga admite ser possível encontrar indícios dessa convicção desde suas primeiras obras em 1903, época de seu afastamento do estudo de Linguística Comparada para adentrar na área de historiografia. Mas é o amadurecimento desta convicção que permite, em sua obra tardia, uma mudança de foco, marcando não apenas uma transição de Huizinga para uma análise "estrutural" da cultura humana mas também o estabelecimento da cultura (e da História) como acontecimentos da linguagem. Essa abordagem mostra-se, inclusive, estruturante para seu posicionamento anti-fascista, já que o jogo seria, então, um constante propor de realidades diversas que, em dado momento, "transbordariam" para a vida cotidiana - contrariando qualquer possibilidade metafísica de uma verdade absoluta ou de uma cultura estanque. A partir deste caminho, abrem-se as portas para um estudo de jogo na História e na Filosofia que levem em consideração seu caráter subversivo de estabelecimento ininterrupto de novas possibilidades. 

 

O outono de um conceito: como definir o 'Segundo Estado' no século XVIII?

João Gilberto Walmsley Melato (UNICAMP)

Em seu livro O Outono da Idade Média, Johan Huizinga alertara para o fato de que, já no fim do século XIII, a nobreza perdera sua predominância na vida econômica e política, mas que o conceito e os ideais associados à fidalguia seriam indispensáveis para entender a vida cultural, pois "a própria ilusão em que viviam os contemporâneos tem seu valor de verdade", estando "na raiz de todas as reflexões políticas e teológicas" (2010: 86). Essa atitude levaria a uma subestimação por parte dos contemporâneos do papel da burguesia na vida social, já que "o estereótipo sob o qual se representava o terceiro estado não fora corrigido pela realidade" (2010: 87). Trabalhando com um tipo-ideal fixo de nobreza e animada por correntes teóricas alinhadas à ideia de "progresso histórico" (à esquerda e à direita), a historiografia por muito tempo subestimou a participação desse estamento nos principais eventos sociais, econômicos e políticos da Modernidade Tardia. A insistência de Huizinga na relevância do ideal cavaleiresco para o entendimento do período renascentista era relativamente pioneira em 1919, e só muito recentemente ganhou a companhia de um protesto similar por parte dos historiadores interessados pelo Setecentos. O vocabulário teológico-político exigia que a nobreza fosse representada em um esquema perfeitamente ordenado: para tanto, ela devia ser dividida no sagrado número de 3 partes. O consagrado tratado escrito, em 1613, pelo jurista Charles Loyseau dividia-a em nobreza “simples”, “alta” e príncipes. Porém, da mesma maneira que a sociedade como um todo, a nobreza era uma realidade mais complexa do que esse esquema admitia, e assim, no século seguinte, a Enciclopédia trouxera mais de 90 entradas com definições para os diferentes tipos de nobreza. Na presente comunicação, buscaremos analisar precisamente essas entradas, principalmente aquelas escritas pelo Chevalier de Jaucourt (1704 – 1780), abordando a questão de dois ângulos: primeiro, analisando como a definição de nobreza se complexificava, adaptando-se por exemplo à presença de fidalgos entre os maiores comerciantes do Reino; depois, discutindo a longa permanência da literatura dos “espelhos de nobres”, nos quais frequentemente se dizia que a verdadeira nobreza partia da virtude – coisa que, como demonstra Huizinga, já no século XII era afirmada, sem com isso significar uma ameaça ao poder da nobreza (2010: 91), mas que é apontada pela historiografia como uma das causas da derrocada dos privilégios do Segundo Estado nos anos seguintes ao assalto revolucionário.

 

Huizinga e V. G. Kiernan na transição para a modernidade

Maurício Orestes Parisi (IFSP)

O objetivo desta comunicação é estabelecer um diálogo entre os processos de formação da Modernidade presentes em O Outono da Idade Média de Johan Huizinga e o trabalho  historiográfico do historiador britânico V. G. KIernan, Destacado membro do Grupo de História do Partido Comunista da Grã-Bretanha. Kiernan participou dos Debates da Transição e teve suas posições combatidas por não se adaptarem à linha oficial. Kiernan se enveredou para o estudo de estruturas sociais e culturais do Estado Absolutista nascente. Desse modo, procurou entender novas formas culturais e  de sociabilidade para além do mero economicismo dominante no Debate da Transição. Assim estabelece um diálogo com a obra de Huizinga, principalmente em seu livro "The Duel in European History", onde violência privada passa a ganhar um regramento social e estatal e que precisaria fazer parte de um novo "processo civilizador. Portanto, os complexos fenômenos da transformação social e cultural ganham matizes e   pode-se pensar com visão de mundo das ordens de cavalaria que se desenvolvem em Flandres e Borgonha podem estar em uma arqueologia do Estado Moderno. 

 

O ideal da montaria em Portugal no século XV

Yasmin de Andrade Leandro (UNESP)

Johan Huizinga em sua celebre obra, O outono da Idade Média, determina que na formação da nobreza se esperava com grande expectativa o cumprimento de seus ofícios de proteção ao reino. Todavia, a considerável pacificação dos reinos no fim do século XIV, na Península Ibérica, fez com que essa arte militar durante os séculos posteriores se transformasse em uma forma de entretenimento. Observamos, então, a ascensão da normatização dessas práticas, um exemplo valido, é a montaria, que nos reinados de D. João I e D. Duarte, em Portugal, ganharam até mesmo obras escritas em vernáculo para o seu desenvolvimento entre os nobres. Nossa intenção é explorar os principais regramentos instituídos por esses reis na arte tão exaltada da montaria no Livro da Montaria e no Livro da ensinança de bem cavalgar toda sela. Examinando como esse divertimento poderia influir na vida dos nobres e nas suas interações sociais dentro das cortes régias.

 

17:00h – 19:00h   Debate aberto

                            Huizinga, progresso e fascismo

                            Prof. Dr. Sidney Aguilar Filho (UNISAL)

27 de setembro de 2019, sexta-feira

09:00h – 10:30h   Mesa 4: Rupturas

                            Huizinga, fascismo e ideologia do progresso

                            Mediação: Profa. Dra. Isabel Marson (IFCH-UNICAMP)

 

Ementa: Historiador fascinado pelas passagens, fortemente atraído pelos períodos de transição e de mudança, Huizinga estava afeito a uma maneira de compreender a história que a pensava mais em termos de metamorfoses, de mudanças paulatinas e assimétricas semelhantes ao alcance irregular das ondas numa praia, do que como rupturas bem marcadas. No entanto, Huizinga foi também um intelectual capaz de estabelecer clivagens, como demonstram seus posicionamentos diante da sociedade industrial e do fascismo. O diálogo crítico que Huizinga empreendeu com a sociedade burguesa, sociedade da afluência industrial-financeira e da arrogância científica, merece ser repensado num contexto em que o problema ecológico, o dilema da própria sobrevivência do ser humano sobre a terra, tornou-se a mais urgente de nossas questões. Numa obra de 1935 intitulada In de Schaduwen van Morgen (Nas sombras do amanhã), Huizinga escreveu: “Não há a mínima parcela de paradoxo na afirmação de que uma cultura pode soçobrar no meio dum progresso real e palpável”. Nesse mesmo livro, Huizinga depositou sua mais candente denúncia do fascismo. Para Huizinga, o racismo pretensamente biológico não é outra coisa senão desculpa para opressão e eliminação das populações excluídas e periféricas. Num momento como o nosso, em que, sob variadas formas, convicções fascistas reaparecem e tentam ganhar legitimidade, retornar a Huizinga – que pagou sua oposição a Hitler com o confinamento em campo de concentração, durante a ocupação de seu país pelos nazistas – é item obrigatório em nossa reflexão. Nesta Mesa 4, os desafios colocados pelos fascismos (os do passado e os do presente) serão debatidos em conjunto com o que representa também, em termos de riscos para a sobrevivência humana na terra, uma ideologia ainda fascinada pela ideia de “progresso”.

 

Convidados:

Profa. Dra. Raquel G. Alves Gomes (UNICAMP)

Prof. Dr. Sérgio Ricardo da Mata (UFOP)

Thiago da Costa Amado (Doutorando - USP)

 

10:30h – 10:45h    Coffee-break

10:45h – 12:30h    Mesa 5: Rupturas

                            Huizinga e o mundo “nas sombras do amanhã”

                            Mediação: Prof. Dr. Thiago Nicodemo (IFCH-UNICAMP)

 

Ementa: Situado, em termos de trajetória pessoal, num momento de incerteza, bem diferente daquele experimentado em fins do século XIX, quando o progresso e a ciência pareciam anunciar a alvorada de um luminoso futuro para a humanidade, Huizinga sentia-se especialmente apto a compreender essas épocas difusas, de lusco-fusco. Um historiador como esse, com semelhantes preocupações e cuja obra parece ter se formado não na opção tranquila por continuidade ou por ruptura, mas na tensa relação entre esses elementos, tem muito a dizer a nós, que vivemos na incerteza sobre qual mundo deixaremos como herança aos nossos descendentes. Nesta última Mesa de nosso Simpósio, as preocupações de Huizinga servirão como pano de fundo para refletirmos sobre impasses de nossa própria época: a erosão “pós-moderna” de categorias no âmbito intelectual frente à sintomática reedificação de muros e fronteiras no plano político, as difíceis consequências da convivência com noções alternativas de verdade, os desafios colocados por um contexto onde os direitos do ser humano, que supúnhamos conquista inarredável da modernidade, parecem irrelevantes. 

 

Convidados:

Prof. Dr. Luiz Estevam de Oliveira Fernandes (UFOP)

Prof. Dr. Márcio Orlando Seligmann-Silva (UNICAMP)

Profa. Dra. Neri de Barros Almeida (UNICAMP)

 

12:30h – 14:00h   Almoço

14:00h – 16:30h   Sessão de Comunicações

                            Huizinga entre passado e futuro: superstição, imagens e islã

                            Mediação: Franco Bionde (IFCH-UNICAMP)

 

Fragmentos da superstição em Johan Huizinga

Dr. Marcos Antonio Lopes Veiga (USP)

A superstição (Bijgeloof no holandês) aparece com mais vigor na obra de Johan Huizinga nos ensaios “Uma curiosa superstição. O dia dos ‘Santos Inocentes’, data nefasta” de 1925, publicado em 1926 no volume “Dez Estudos” e, posteriormente, em seu livro “Nas sombras do Amanhã”, publicado em 1935, no capítulo intitulado “Superstição”. Os textos de Huizinga permitem pensar em que medida seu conceito de superstição é chave para a compreensão do passado que constrói – e, portanto, da sua Medievalidade Tardia do norte da Europa – e, também, do presente em que escreve, ambiente europeu em clima de latente beligerância às portas da Segunda Guerra Mundial. Em ambos os ensaios, a superstição aparece relacionada à guerra, seja como elemento explicativo e constituidor do passado, seja como libelo e expressão das inquietações do seu presente. A apresentação tem como proposta compreender o conceito de superstição a partir de seus contextos de uso em “O dia dos ‘Santos Inocentes’...”, “Superstição” e outros textos Huizinga. Como complemento, pretende-se ainda problematizar a construção do conceito de superstição levando em conta a ideia de sua funcionalidade na relação presente-passado e na relação de rupturas e continuidades históricas estabelecidas por ele em parte significativa de sua obra. No limite, tenciona-se também compreender em que medida o conceito de superstição pode revelar uma acepção de história e de cultura.

                                  

O Outono do Estado? - Huizinga e Burckhardt entre passado e futuro

Raul Salvador Blasi Veyl (UFMG) e Philippe Oliveira de Almeida (UFRJ) 

Para além da hereditariedade da tradição, Johan Huizinga e Jacob Burckhardt compartilham um olhar reticente quanto à cultura e ao Estado de seus tempos. O presente trabalho busca evidenciar as aproximações entre os diagnósticos político-culturais de ambos os autores, bem como as semelhanças no tratamento das fontes históricas que elegem como objeto de estudo. As concepções teóricas dos dois autores no que diz respeito à conjuntura política de seu tempo são frequentemente negligenciadas por seus intérpretes e ganharão destaque na nossa análise. É com Jacob Burckhardt e seu “A Cultura do Renascimento na Itália” que se observa o emergir de uma peculiar posição acerca da formação dos Estados modernos pós-revolucionários, a qual, no contra fluxo de seus contemporâneos, desvela uma desconfiança em face ao militarismo e a centralização do poder. Ademais, a sua formação, que mescla história da arte com filosofia política, possibilita um olhar que comunga elementos culturais, históricos e políticos. De obra de Arte no paradigma renascentista à artefato tecnológico na aurora do oitocentos, Burckhardt – um homem de contrastes – vai encampar uma das mais interessantes, apesar de pouco exploradas, Teorias do Estado. Johan Huizinga, por sua vez, vale-se do Outono da Idade Média como um ponto de inflexão a partir do qual o Ocidente passa a decair. Em seu “Nas sombras do amanhã”, o autor procura explorar os ecos trágicos da cultura de massa nas sociedades europeias do pré-guerra. Como nos mostra Colie (1964), o exercício da razão a Huizinga representava uma obrigação moral de todos os indivíduos e o militarismo, antissemitismo e queima de livros corresponderiam à herança de uma forma de cultura, que, para além de desencorajar a independência individual, possuía uma persistente preocupação com o primitivismo. Huizinga e Burckhardt retornam ao momento de transição entre Medievo e Modernidade a partir de um esforço para tentar identificar a gênese de problemas políticos que viam eclodir na Europa a partir da Revolução Francesa. Procedem, por meio da arte e de uma abordagem cultural da história, a um diagnóstico que percebe com descrédito o ambiente contemporâneo, seja na formação e centralização burocrática do Estado, no emergir dos nacionalismos, ou na influência da cultura de massas na política europeia. É a partir destas perspectivas que o presente trabalho busca encontrar elementos de aproximação e dissonância entre a visão de cada um dos autores sobre o alvorecer dos Estados contemporâneos no horizonte da Cultura e História.

                                 

Imagem e Cultura: o olhar de Johan Huizinga sobre a História

Renato Ferreira Lopes (UNIFESP)

Na visão de Johan Huizinga, a pesquisa histórica realizada a partir das imagens acessa dimensões que os documentos oficiais e as estatísticas não alcançam. Sua tentativa de “ver” o passado é a proposta de uma imersão no lado mais sensível dos relatos históricos e o reconhecimento de que os usos e funções das imagens não estão restritos ao universo artístico, mas que surgem constantemente na vida cotidiana e nos sonhos das pessoas de ontem e de hoje - sem excluir os historiadores cujo trabalho é, segundo Huizinga, “dar forma” ou “criar uma imagem” de uma realidade pretérita após extensa pesquisa. Para além da compreensão estética e criativa do ofício, aqui, as artes visuais e a literatura seriam também fontes essenciais para se compreender a História por apresentarem tudo o que a frieza dos documentos oficiais e dos números não acessam: as paixões humanas. Por outro lado, as pinturas dos mestres do norte europeu do século XV que guiaram Huizinga para escrever O outono da Idade Média revelam a consciência do historiador sobre a presença das imagens e a relação das pessoas de sua época com elas. Ele pertence a uma geração que assistiu o estabelecimento de dois aparelhos – um técnico e outro institucional– extremamente ligados à arte e às ciências Humanas em geral que mudaram drasticamente a cultura: a fotografia e o museu. Ambos foram determinantes para um entendimento mais visual do passado, questão que ocupou um lugar privilegiado nas pesquisas de Huizinga nos primeiros anos do século XX e permanece atual levando em consideração o desenvolvimento das mídias visuais e sua presença nas salas de aula e nos espaços expositivos. Neste trabalho acompanharemos a ideia de Johan Huizinga sobre as imagens na História da Cultura nas primeiras décadas do século XX a partir de conferências, ensaios e da obra que o consagrou nos estudos históricos: O outono de Idade Média (1919). Nosso propósito é aproximar o autor ao campo da História da Arte, apresentando o quanto sua visão sobre os modos de apreensão do passado surge estreitamente ligada ao universo artístico.

​

Como desvelamos o mundo Islâmico em "O outono da Idade Média"

Profa. Dra. Ximena Isabel León Contrera (GEHIM - USP)

A partir do artigo de Peter Burke, incorporado à edição brasileira de "O outono", texto em que o historiador da cultura nos conta do interesse de Huizinga pelo Islã num momento temprano de sua carreira, proponho-me nesta apresentação fazer uma análise da obra título deste evento buscando interpretar e historicizar as menções que o historiador faz sobre o Islã, tanto quanto aos eventos que contaram com a participação de personagens pertencentes ao mundo muçulmano e como referente a outros aspectos que possam ser desvelados. No começo do século XX novas abordagens sobre o mundo Islâmico são desenvolvidas ainda que muitas vezes sob um olhar plasmado por perspectivas orientalistas, como, por exemplo, aquelas trazidas numa obra posterior de Henri Pirenne, Mohamed e Carlos Magno, por mais que novos métodos e paradigmas estivessem sendo considerados com a renovação da história a partir dos Annales. Ainda que seja imprescindível insistir numa análise em que seja privilegiada a contextualização da visão de Huizinga quanto às relações entre a Europa e o mundo muçulmano e às rupturas (ou confluências) diante da historiografia do seu tempo, procuramos nesta reflexão desenvolver interpretações da visão deste historiador que são desveladas na obra mencionada.

 

16:30h – 17:00h   Coffee-break

 

17:00h                  Conferência de Encerramento

                            Prof. Dr. Luiz Cesar Marques (IFCH-UNICAMP)

                            Mediação: Prof. Dr. Rui Rodrigues (IFCH-UNICAMP)

bottom of page